Arte de semáforo
- walter tierno
- 21 de abr. de 2021
- 1 min de leitura
De dentro do carro, enquanto esperávamos o semáforo abrir, Rita e eu assistimos a uma artista de rua fazer acrobacias com seu bambolê. Rita contribuiu com uma nota. Outro a pagar foi um motoqueiro, entregador de aplicativo, que também esperava o sinal verde. A artista exibia, além do talento e um sorriso — que tampou com a máscara quando foi recolher o dinheiro —, uma barriguinha de gravidez. Primeira coisa que pensei: quem engravida com um trabalho desses e em plena pandemia? Que babaca. Não ela. Eu! Quem engravida com um trabalho desses e em plena pandemia? Espanto a poeira das certezas tolas para responder: Quem acredita na vida. Quem tem esperança e amor.
E, afinal, que tipo de pergunta foi essa? Que julgamento a inspirou?
Quando a geração de vida passou a ser exclusividade de quem tem esse ou aquele padrão de vida? Essa sim é uma boa pergunta. Quando o amor se tornou refém? Por que ainda julgo? Por que ainda julgamos? Quem ou o que nos condicionou a isso? A essa forma cínica e inumana de pensar e sentir?
A acrobata de bambolê se apresenta na rua com barriguinha de grávida. Por amor à arte e pela arte de amar.

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