Pandemia, arte e pessoas
- walter tierno
- 6 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de abr. de 2021
É difícil ter contato com a realidade e não se revoltar, entristecer, preocupar. Talvez, impossível.
Então, já há algum tempo, prefiro trabalhar na digestão e ressignificação desses sentimentos, para manter minha saúde emocional.
Hoje, por exemplo, fiquei furioso quando li uma matéria do Washington Post compartilhada por dois cientistas que acompanho no Twitter: A variante brasileira da Covid, a P1 está se espalhando pela América Latina.
Meu primeiro impulso é culpar os negacionistas. Depois, por motivos óbvios, o despresidente. Seus eleitores, as pessoas que andam sem máscara... e a lista vai aumentando... até o momento em que respiro fundo e recolho minha revolta. Nesse processo, sempre penso em como tive sorte até aqui. Em como consegui evitar o contágio, mantive minha saúde e em como as pessoas ao meu redor também estão saudáveis. Troco minha revolta por gratidão.
Não serei demagogo em dizer que estamos todos no mesmo barco, que temos que nos amar e botar as diferenças de lado. Não funciona assim. Enquanto faço minha parte, tenho que tolerar a "opinião" escrota do negacionista que fala bobagens na Jovem Pan, tenho que fugir do baladeiro que não consegue se afastar da aglomeração desmascarada no barzinho da esquina ou na festa clandestina.
Há muita responsabilidade humana envolvida nessa pandemia. A covid veio roubar nossa inocência quanto à bondade e generosidade "inerente" das pessoas. Ou veio nos abrir os olhos. Depende de como e o que você aprende com ela.
Não estou sendo pessimista, acredite. Não considero apenas o egoismo, a ignorância, a estupidez e a violência. Penso também na fragilidade, na compaixão, na capacidade de errar e aprender. Penso na natureza humana, em como é complexa e variável. Em como as pessoas conseguem mostrar um conjunto tão variado de virtudes e defeitos. Monstros e heróis são só metáforas de fácil compreensão. A humanidade tem fragilidades e produz maravilhas muito maiores do que qualquer blockbuster ou gibi.
Lembre-se sempre disso quando escrever ou criar. A arte é feita para pessoas e trata sobre pessoas. Quanto mais as entender, melhor será sua arte.

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